O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Precioso Tempo

Faz tanto tempo que não escrevo. Não escrevo porque me falta tempo. Tanto se criticam os desocupados, e eu hoje quase os admiro. Quem dera meu tempo fosse livre para eu ficar desocupada e poder fazer tanta coisa de que gosto. Ler, por exemplo. Chego a imaginar que estou desaprendendo a ler por prazer, porque não tenho tempo. Preciso ler folhas e mais folhas de trabalhos científicos, monografias de conclusão de curso, referências a autores ou mesmo plágio (Se não existisse o plágio muitos jamais se formariam). Alguém poderia me criticar dizendo: o ser humano nunca está satisfeito. Agora que está no emprego que sempre almejou, reclama. Reclamo! Reclamar é sinal de que estamos vivos! Contudo, estou bem satisfeita, ganhando o meu precioso salário e dele faço muito bom proveito, por vezes até compro sonhos. Tão somente queria ter mais tempo para trabalhar em áreas que me trouxessem mais contentamento e realização. Passo pelas ruas, observo as pessoas que, no final da tarde, sentam-se, com o cabelo molhado e uma roupa leve, em cadeira de balanço em suas calçadas. Sempre achei que sentar em calçada não combina com o meu jeito de ser, mas por esses dias, meses e anos, sentar para conversar seria para mim um luxo, um refrigério. Todavia, ainda assim, se me sobrasse tempo, armaria uma rede na varada e buscaria a companhia de um bom livro para ler. Queria tão somente me apossar do meu próprio tempo para empregar naquilo que bem quisesse. Quem dera até pudesse acompanhar dia a dia um programa de TV, quem dera! Já que, assiste à TV quem tem tempo para desperdiçar. Quem dera não precisasse reclamar que me falta tempo para ler e escrever sobre aquilo que realmente me interessa. Ler e escrever... Não necessariamente o dia todo, mas todos os dias, sem nada ganhar ou perder, apenas para satisfazer minha necessidade de ser livre, empregando meu tempo naquilo que verdadeiramente me faz feliz.


Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p . 110 
Editora Queima Bucha, 
Crônica: Precioso Tempo