O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

No meio do nada

             poesia de Margarete Solange
Cinquenta anos...
E eu aqui sentada no meio do nada,
Plagiando a mim mesma...
Melancólica!
Lá fora o mundo se estende
Moderno, prático, carrasco!
Encarcerada em minhas próprias paredes,
Lamento as horas perdidas.
Para sentir-me realizada,
Tento crescer em palavras
E busco a lógica da vida.
Vão-se os anos...
E eu sem realizar grandes feitos,
Da varanda contemplo as estrelas,
Sonho viajar pelo mundo,
Compreender as pessoas,
Entender a mim mesma.
E se eu plantasse uma árvore,
Esse feito me traria grande contentamento?
Nem mesmo sei o que seria grande,
O que seria belo demais para o mundo.
Que feito grandioso poderia
Brotar de um peito tão singelo?
Tenho braços curtos, pernas lentas,
Olhos limitados.
O pensamento voa alto como águia,
Mas o pensamento é algo irreal,
Não é concreto, é vento!
E a águia fascinante em quem me inspiro,
Imponente personagem das fábulas,
É um bicho do deserto...
E não tem melodioso canto.
Ser pequeno parece mais verdadeiro!
Belas epopeias, tudo ficção,
Somente na dureza do dia a dia,
Na injustiça e no trágico,
O mundo se faz mais real.





Margarete Solange,
Inventor de Poesia, 

2ª edição, 

2014, p. 30 
Fotografia de 
Jorge Luiz