O
Silêncio das Lembranças é o resultado de algumas de minhas leituras literárias,
em especial, das obras “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Brontë, “A Letra
Escarlate” de Hawthorne e “O Gato Preto” de Edgar Allan Poe. Romance narrado em
primeira pessoa, pela jornalista Marisca Bravia, que, por vezes, quer fazer a
vez de um narrador onisciente, falando sobre pensamentos e sentimentos que não
lhe foram revelados. Essa jornalista é uma personagem que admiro bastante,
pois, desde criança, mostra-se independente e determinada. É dotada de
personalidade forte, é ousada, características que aprecio muitíssimo nas
pessoas da vida real. Essa personagem de ficção saiu das páginas deste romance
para protagonizar o conto “Filhos da Pobreza” publicado no livro “Ninguém é
Feliz sem Problemas”, embora em nenhum momento seu nome apareça na obra. Bom,
se não for ela, é alguém muito parecido, uma cópia bem fiel!
Outra
personagem que me diverte bastante é a velha Rosa. Quando findei o romance, as
mulheres da minha família, que liam ou ouviam os comentários sobre as
peripécias da velha, perguntavam-me em quem eu tinha me baseado para criá-la.
Nenhuma delas queria ser a musa inspiradora. Eu me divertia com isso. Tampouco
queria me identificar com essa personagem, exceto pelo fato de que ela também
fora professora de crianças, quando jovem. Voz estridente e resmungona, fala o
tempo inteiro até quando está sozinha. É uma personagem hilária, uma caricatura
divertida. Ao que parece, nós, mulheres, com o tempo tornamo-nos um pouquinho
velha Rosa, de uma forma ou de outra. Todavia, espero que, com o passar dos
anos, essa semelhança não cresça. Não desejo plagiá-la, afinal, a velha Rosa
surgiu antes da velha Margarete.
Do mesmo
modo que, ao lermos uma obra, podemos nos identificar com vários personagens,
um único personagem pode ter sido baseado em diversas pessoas. É aí que entra o
talento do escritor: a partir da realidade, ele cria ou recria sua arte,
temperando a seu modo, conforme seu estilo e seu querer. Assim sendo, nesta
obra monto personagens de ficção, emprestando a eles relances de emoções,
temperamentos, jeito de ser e de falar de pessoas que passaram por mim.
Aproveito também episódios que vi, ouvi ou vivi nos tempos de infância,
adolescência e até, quem sabe, ainda vou vivenciar em dias futuros, já que a
vida também imita a ficção.
É natural
que o romancista busque nas pessoas da vida real ou em personagens de outros
autores características para suas criações. Stony, Marina e Heitor, por
exemplo, são baseados em Heathcliff, Catherine e Edgar, personagens do romance
de Emily Brontë. Contudo, eles têm personalidades e atitudes diferentes. Existe
um elo forte entre Marina e Stony, porém eles são separados pelo destino. E
esse destino tem como aliada a narradora Marisca, que omite fatos importantes,
os quais a irmã precisava saber, bem como manipula acontecimentos com a
finalidade de sabotar o romance entre os dois. Por fim, consegue que o elo
entre eles seja quebrado. A grande diferença entre os personagens das duas
obras está no fato de que, embora Marina e Stony sejam impedidos de ficarem
juntos, eles não se destroem por causa disso.
E assim,
emprestando o jeito de ser e de falar de pessoas das obras lidas e da vida
real, surge este romance. Mais um filho que vem ao mundo e que já nasce velho
porque vem sendo lido desde 1995, época em que iniciei sua criação. Em 1997,
com ajuda do computador, confeccionei alguns exemplares e os emprestava a
parentes, amigos e coloquei-os também no acervo da biblioteca na qual
trabalhava na época.
É
interessante ouvir a opinião dos leitores enquanto podemos alterar a obra. Eles
sempre pedem para modificar alguma coisa. Acatei algumas das sugestões dadas.
Mas mesmo assim, os leitores queriam sempre mais, principalmente, em relação
aos personagens Marina e Stony. Pois é, às vezes até desejamos dar um final
diferente a nossas criaturas, porém, nem sempre depende de nós autores fazê-lo.
Eu sinceramente não esperava que Marisca aprontasse tudo que ela aprontou. Por
vezes, planejamos de um jeito, mas o personagem teima e faz de outro,
completamente fora do planejado.
Aos que
gostariam que Stony tivesse um final mais afortunado, aconselho que leiam “O
Morro dos Ventos Uivantes”. Certamente, irão concluir que modifiquei bastante,
o final infeliz do meu “Heathcliff”
A autora